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Os impactos da pandemia na educação dentro do capitalismo: da exclusão à evasão

O cenário da pandemia tem sido assustador em todo o mundo, tanto o número de mortes quanto a curva de contágio. Nossa sociedade terá sequelas nos próximos anos, mas afinal de contas, o que nos espera na educação?



As aulas presenciais foram suspensas: somente no mês de abril, mais de 1,6 bilhões de estudantes do planeta estavam fora da escola. Essa atitude foi tomada na tentativa de diminuir a velocidade da contaminação, considerando o potencial de vetor da doença que nossos jovens poderiam ter, já que muitos casos seriam assintomáticos.

O que era pra durar algumas semanas ou no máximo 3 meses se tornou um dilema. Quando é a hora certa para o retorno dessas aulas? Na França, de acordo com o G1, 70 escolas foram fechadas em maio após novos casos de contaminação, logo assim que foi realizado o retorno às atividades presenciais.

Diante disso, as atividades remotas passaram a ser uma unanimidade entre os governos, em especial no Brasil. A iniciativa que teria como objetivo adiantar as aulas atrasadas devido a suspensão, dar continuidade ao ano letivo e por fim manter as crianças e jovens conectados a educação tem saído pela culatra. Isso porque tem cumprido um papel que se distancia muito do verdadeiro desafio da inclusão que a educação tem. Vejamos dados apresentados pelas secretarias de educação de 15 estados do país e pesquisas feitas pelas entidades secundaristas AERJ no Rio de Janeiro e AMES-BH em MG:

  • No Piauí, 91% dos alunos estão fora da plataforma de aulas via internet;

  • Em RR e SP, mais da metade dos alunos não têm acesso aos conteúdos pelas plataformas digitais;

  • Em 7 estados, o ensino on-line não chega a atingir 15% dos estudantes;

  • No RJ, 28,5% não possuem dispositivo adequado para o acesso e 30,8% sem internet adequada. Nas turmas, 88% que responderam a pesquisa online, tem menos de 20 pessoas frequentando entre turmas de 30 a 40 alunos;

  • Em MG, o sinal da Rede Minas abrange apenas 186 dos 853 municípios do Estado, o que representa cobertura de apenas 22% das cidades mineiras. Logo, 78% das cidades dos estudantes não têm acesso a essa plataforma da TV.

Além da evidente dificuldade de acesso apresentado acima, a contabilização dessas atividades como obrigatórias para avaliação e contagem de dias letivos se transformam num processo excludente. Quantos foram os estados que se preocuparam em dar acesso aos estudantes com equipamentos? Quantos foram os que garantiram internet de banda larga? Quais fizeram estudos sobre a realidade social desses estudantes? Para além do acesso, as condições dentro de casa também influenciam no aprendizado. Vejamos o exemplo do Rio de Janeiro, onde a Secretaria de Educação teria enviado apostilas para a casa dos estudantes:

  • Ainda segundo levantamento da AERJ, após 3 meses de exclusão nas aulas remotas, 79,2% dos estudantes ainda não tinham recebido as apostilas autorreguladas;

  • No RJ, somente 7,7% dos estudantes receberam itens de cesta básica durante 4 meses de suspensão das aulas presenciais;

  • 83% não conseguiram manter a rotina de estudos, 89,9% têm dificuldade de concentração e 79% afirmam ter colegas que desistiram dos estudos.

Em MG, dos que responderam a pesquisa online:

  • 65% tem dificuldade de acompanhar as aulas.

Fica claro então que a suspensão das aulas presenciais teve um impacto profundo na educação. Mas o que poderia ter sido feito? A alternativa dos governos em aprovar de forma atropelada as aulas remotas, sem dar condições de acesso para com os estudantes têm demonstrado que o abismo na universalização da educação e na igualdade de condições tem aprofundado ainda mais a exclusão dos estudantes mais pobres.

Essa realidade não é só apontada no Brasil: Seguem os dados alarmantes da ONG Save The Children e do relatório ‘’Informe de Acompanhamento da Educação no Mundo 2020: Inclusão e Educação’’ da UNESCO:

  • 10 milhões de crianças no mundo devem abandonar a escola após a pandemia;

  • Em 12 países, principalmente no centro e no oeste da África, assim como no Iêmen e no Afeganistão, as crianças enfrentam um risco muito forte de não voltar à escola após o confinamento, especialmente as meninas;

  • Nenhuma mulher com origem em um ambiente rural consegue completar o ensino secundário em pelo menos 20 países, a maioria deles na África subsaariana;

  • Nos locais menos desenvolvidos é três vezes mais provável que os adolescentes de famílias mais abastadas terminem o ensino médio do que os das famílias menos favorecidas;

  • Ao mesmo tempo, nos países mais pobres, aqueles que completam o ensino médio e vêm de lares com mais recursos têm o dobro da probabilidade de ter conhecimentos básicos de leitura e matemática;

  • 117 países, segundo o relatório, seguem permitindo os matrimônios infantis, enquanto 20 ainda não assinaram o convênio contra o trabalho infantil.

Esse drama encarado no mundo nos coloca diante do seguinte dilema: dentro do capitalismo é possível fazer com que a educação cumpra o seu papel transformador e emancipador?

Para essa pergunta, a resposta já está colocada na apresentação dos dados. O que vemos é que o cenário de desigualdade aumenta a exclusão até o limite da evasão. Ora, se num sistema econômico, em pleno século XXI, com toda tecnologia desenvolvida, não há preocupação por partes dos governantes em garantir a universalização do ensino já que ainda hoje 260 milhões de crianças estão fora da escola, ou seja, uma em cada cinco pessoas, por que seria diferente nesse momento de pandemia? Além disso 250 milhões de crianças sofrem de desnutrição ou sobrepeso e 50% das crianças do mundo, 340 milhões, enfrentam a fome oculta (sem vitaminas ou minerais).

Um sistema que não é capaz de garantir nem a alimentação básica para crianças menores de 5 anos, não seria capaz de enfrentar os desafios da evasão escolar pois seu verdadeiro compromisso é com o lucro na educação, nos campos e nas indústrias.

Somente um regime como o Socialismo poderia ter sido capaz de dar condições de igualdade para os jovens durante a pandemia e fora dela, resolvido o déficit da alimentação de crianças e adultos e se mobilizado diante dos problemas para enxergar soluções, como os mutirões de solidariedade que têm sido feitos pelas entidades do movimento social em todo Brasil.

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