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A juventude negra quer viver

A juventude negra do Brasil tomou às ruas em diversos estados do país para lutar contra o racismo e o avanço do fascismo. Junto às torcidas organizadas, os movimentos sociais deram uma grandiosa resposta à violência policial nas periferias e às últimas movimentações do governo genocida de Jair Bolsonaro, que apoiado por banqueiros, generais e pela quadrilha de grandes empresários, quer a volta da ditadura militar no Brasil.



É bem verdade que esses atos expressam a indignação da juventude em relação às declarações do ex-capitão do exército, em especial ao total desrespeito com que trata as mais de 43 mil vítimas de Covid-19, no Brasil. Somada à incompetência e política fascista de Bolsonaro, o número alto de vítimas da pandemia escancara o abismo social e racial que o capitalismo impõe aos negros e pobres em nosso país. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD) revela que 31,1 milhões de brasileiros (16% da população) não têm acesso à água fornecida por meio da rede geral de abastecimento; 74,2 milhões (37% da população) vivem em áreas sem coleta de esgoto e outros 5,8 milhões não têm banheiro em casa.


Outra análise realizada por pesquisadores do Centro Técnico Científico da PUC-Rio revelou que a chance de um paciente preto ou pardo analfabeto morrer é de 76% e 3,8 vezes maior que a de um paciente branco com nível superior (19,6%). Ou seja; o estado capitalista é tão racista e assassino que encontra formas diferentes de atacar o povo negro por todos os meios, inclusive nos matando dentro de nossas próprias casas.


Como foi o caso do menino João Pedro de 14 anos, que foi executado durante uma operação da Polícia Civil e CORE no complexo do Salgueiro em São Gonçalo. Sua casa foi alvejada por 70 tiros e o menino após baleado foi sequestrado pelo helicóptero da polícia e seu corpo foi encontrado apenas no dia seguinte, já no IML.


O caso de João não foi o único. Em São Paulo, David Nascimento dos Santos, trabalhador ambulante de 23 anos foi encontrado morto após uma abordagem policial. Na Bahia, Marcos Vinicius de 21 anos que foi morto pela polícia em Salvador. E, recentemente, nos questionamos quem matou Gabriel, jovem negro no Rio Grande do Norte que foi encontrado morto após ficar desaparecido há dias


O Brasil tem a polícia que mais mata no mundo, além de ser também a terceira maior população carcerária com 773.151 pessoas presas, em sua maioria esmagadora jovens, negras e pobres. Para se ter uma ideia, só em abril desse ano, no estado do Rio de Janeiro a polícia militar causou 117 mortes, 43% a mais que no mesmo período de 2019 (Dados do Instituto de Segurança Pública - ISP). No Rio Grande do Norte, estado mais perigoso para um jovem negro viver, o número chega a 142 mortos, 28% a mais que o registrado no mesmo mês do ano passado, 85% das vítimas de violência são negras.


Com o aprofundamento da crise do imperialismo, esse projeto tem se intensificado à medida que é preciso sangrar os direitos dos juventude e da classe trabalhadora para não sacrificarem seus lucros bilionários.


Como se não bastasse, há sucessivas ameaças de Bolsonaro ao que ainda resta de democracia, além do seu ministro General Heleno, seus filhos e todo o bando de apoiadores que vem pondo as asas de fora em manifestações pedindo ditadura militar.


Mas se por um lado o estado combina de nos matar, por outro, a juventude negra e pobre continua combinando de não morrer. Foi através desse combinado que seguimos nos organizando através das redes solidárias para auxiliar as famílias em situação de pobreza que foram abandonadas pelo poder público muito antes da pandemia. Esse mesmo combinado levou essa juventude a tomar as ruas para dizer que vidas negras importam e que não aceitamos morrer nem de fome, nem de tiro e nem de Covid-19.


O nome dos nossos que tiveram a vida arrancada pela violência foram ecoados em protestos por todo o Brasil, respeitando nesses atos, ao máximo, as orientações de distanciamento social indicadas pela OMS. Mas também dizendo que fomos obrigados a ir às ruas protestar já que os nossos algozes vão em nossas casas nos matar, mostrando que enquanto querem que as vidas tombadas sejam apenas números, nós damos nomes, assim como o sistema que lucra diariamente com o genocídio também tem nome e se chama capitalismo. O racismo mata pelas mãos da polícia, mas também pelas práticas racistas de toda uma elite branca e egocêntrica que domina nosso país, como Sarí Mariana Gaspar Hacker Corte Real, que depois de entregar o menino Miguel de apenas 5 anos à morte, pagou fiança de 20 mil reais deixou a delegacia como se nada tivesse acontecido.


Por isso a juventude negra cumpre seu compromisso e sua tarefa herdada de nossos ancestrais de continuar lutando pelas nossas vidas, por liberdade que hoje, também, significa lutar contra o avanço do fascismo e por justiça. Em nossas palavras de ordem, denunciamos que essa democracia burguesa nunca nos representou e nunca nos dará o que exigimos: a liberdade e direito a uma vida digna. Por uma completa abolição, é preciso construir o socialismo.

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